Britney Spears em toda sua glória com “Glory”
O novo álbum da Britney Spears, “Glory”, começou a ser vendido em formato físico em lojas do México no sábado (20/8), o que botou fim a alguns mistérios. O disco possui 40 colaboradores no total, entre compositores e produtores, divididos entre as 17 faixas da tracklist, sendo sete delas de co-autoria da cantora.
O número de parceiros parece grande, mas é pequeno se comparado com outros lançamentos de 2016. Beyoncé usou 70 colaboradores para criar as 12 faixas de “Lemonade”, por exemplo. Já Rihanna trabalhou com 67 parceiros para as 16 faixas do álbum “ANTI”.
No “Glory”, a maior colaboradora de Britney é a compositora Julia Michaels, creditada em sete músicas. O parceiro dela, Justin Tranter, também aparece em seis faixas. A dupla Julia e Justin é a mesma de sucessos como “Sorry” do Justin Bieber, “Good For You” e “Hands to Myself” da Selena Gomez.
Glory é o nono álbum de estúdio da artista musical estadunidense Britney Spears, que será lançado oficialmente em 26 de agosto de 2016 pela RCA Records. O álbum tornou-se disponível para pré-venda na Apple Music à meia-noite de 3 de agosto de 2016.
Britney Spears enfrenta altos e baixos desde 2007.
Já escureceu as madeixas, desapegou delas, se envolveu com gente errada, livrou-se de um casamento tóxico, teve filhos, perdeu, por vezes, o brilho natural que tanto a distinguia das outras princesas pop no início da carreira e até adquiriu estranhos trejeitos robóticos que, no fim do dia, perdoamos pelo escrutínio insaciável da mídia.
Seus discos mais recentes Femme Fatale (2011) e o Britney Jean (2013) pareciam obra dos produtores , um discurso automático que não precisava nem da cantora em si.
Bem, como já foi dito acima, Britney e criatividade intimista nunca foram bons amigos e as chances da gente terminar com outro álbum cafona em mãos era bem grande.Sua carreira também nunca foi um ato político, então seria pretensioso embarcar nesta linha e cair nas garras da crítica.
– Britney Spears batalha contra “Britney Jean” no indiscutivelmente pior álbum de sua carreira!
Demoramos um bom tempo para perdoar a Mrs. American Dream pelo desfalque, mas, se colocados na balança, os erros de Spears são quase nulos comparados a seu histórico glorioso. E vamos combinar: ela não tem muito mais o que provar, mas é incrível quando artistas já solidamente estabelecidos e, muitas vezes, referenciados como lendas, saem de sua zona de conforto e presenteiam o público com coisas tipo Glory.
O novo álbum de Britney, cujo título já é um spoiler e tanto, é o retrato ideal desta transgressão.
Invitation, o album-opener da vez, é ela experimentando como nunca vimos antes: com ecos assombrados e usando talvez os registros mais baixos de sua voz, que nos fizeram delirar no passado com Breathe on Me, o requintado “convite” à nova fase é digno de arrepios – e aplausos.
A composição é da dupla Julia Michaels e Justin Tranter, os mesmos responsáveis por Good For You, de Selena.
“Here’s my invitation baby, hope it sets us free. To know each other better, put your love all over me.”
Na sequência, a moody Make Me, colaboração com G-Eazy que exala sex appeal e dá continuidade ao R&B sumptuoso da faixa anterior.
Enquanto existem muitas coisas impróprias que podemos associar a alguns ‘oooh, oooh’s, o primeiro single do Glory deixa pouco espaço para questionamentos: este é, sem dúvidas, o retorno triunfal de Britney que estávamos esperando.
Se estávamos achando o disco algo arriscado ao extremo para alguém como Britney, conhecida por seu pop pré-cozido e bangers repetitivos de Max Martin – que, para nossa surpresa, está ausente no álbum – a burlesca Private Show vem para puxar nossos tapetes de vez.
Com direito a referências líricas à Madonna e até um esforço vocal maior de Britney, a canção soa exatamente como nada que a própria tenha feito no passado. Literalmente um show, sem promessas.
“My encore is Immaculate.”
Quer mandar aquela indireta arrasadora pro “crush”? Man On the Moon é Britney clássica e o quarto título da lista.
Num pop mais próximo do que estávamos acostumados a ouvir dela, o que não é algo ruim, a musa tenta chamar a atenção de um cara que vive no mundo da lua e nunca enxerga o que está escancarado na sua frente. Todos, definitivamente, podem se identificar com isso, né?
Retornando ao R&B que tanto deu certo na abertura, Just Luv Me é aquele midtempo certeiro para as pistas de dança que estávamos esperando. Produção carimbada do Cashmere Cat (Be My Baby de Ariana), a baladinha pode ser até tímida, mas é um dos grandes destaques do álbum.
Apelando para o comercial e saturando-se de sintetizadores, Britney está “tropeçando ao redor do quarto” na brincalhona Clumsy, que não é tão genial quanto sua irmã de título cantada pela Fergie, mas com certeza será entoada em uníssono nas festinhas.
No mais, aquele simples ‘Oops!’ já vale pela música toda.
Se Invitation era o convite óbvio à primeira parte do álbum, a insistente Do You Wanna Come Over? flerta com o mesmo papel na seção intermediária. Ninguém deve ficar sozinho se não precisa estar, e Spears consegue fazer com que um simples “quer dar um pulo aqui em casa?” soe quase como uma oração.
Como resistir?
É claro que não pudemos recusar, e cá estamos nós na tal Slumber Party, que, pasmem, é um reggae-pop delicioso que obedece às tendências tropicais do momento. Se não se recordam, o gênero esteve ausente do repertório de Britney desde The Hook Up (2004).
Alguém mais nota leves semelhanças com Hotline Bling do Drake?
Em Just Like Me Britney nos dá um gostinho do que seria ouvi-la num álbum acústico antes de ser engolida, novamente, pelos synths de sempre. Liricamente, a faixa se assemelha bastante a She’s Not Me, filha renegada do álbum de 2008 de Madonna.
Por outro lado, lo-lo-lo-Love Me Down traz percussão mais marcada, estalos rítmicos e nosso velho amigo auto-tune. A música não é, mas poderia facilmente ser confundida com uma produção do Diplo e, para os fãs saudosos do icônico Blackout, talvez vocês fiquem felizes em saber que os responsáveis por Down também assinam os créditos da faixa-bônus Everybody.
“She looks just like me, just like me. No, I just can’t believe.”
Um álbum de Britney Spears nunca é propriamente um álbum de Britney Spears sem alguns fillers, e “nada-Hard to Forget Ya” é um deles. Saindo das pistas e caindo direto num doo-wop retrô que, de novo, jamais esperaríamos dela, a loira encerra a edição standard com a nervosa What You Need, que serve para tirar ainda mais poeira de suas cordas vocais e é a primeira faixa no álbum com instrumentalização inteiramente orgânica. Curiosamente, nos lembrou muito algo que a colega Christina Aguilera gravaria.
Todos os yeah yeah yeah yeah yeah yeah yeah yeah‘s, I got you I got you I got you I got you I got you I got you I got you I got you‘s e aquele fofo that was fun no fim?
SIM, BRITNEY, SIM, KEEP THEM BANGERS COMING!
Para a edição deluxe, temos uma porção de hinos dance que fariam até nossa velha amiga Till the World Ends sair correndo assustada. Ficar coladinho com quem a gente ama é muito mais gostoso, e é disso que Better trata, enquanto a efervescente Liar acusa, sem dó, um amante que se acha mais esperto do que realmente é.
Em clima de faroeste e soando mais sombria que no resto do disco, Britney mostra que, assim como o ex Justin Timberlake, não tem medo de lavar a roupa suja em público.
“You know I know that you’re a liar, a liar.”
Change Your Mind, ou No Seas Cortes, como diz seu título alternativo, é a pitada latina que faltava na discografia: desta vez Britney quer pular as preliminares e ir direto ao ponto, e no meio de toda essa avantajada promiscuidade, quem diria que ela até arriscaria hablar um pouco de español?
Na sequência, temos a frenética If I’m Dancing, que para os não-familiarizados com um pouco de trip-hop, parecerá bastante com um funk brasileiro da gema. M.I.A. ficaria orgulhosa.
Além de diverso em sonoridades, Glory é um álbum trilíngue, monamour! Coupure Électrique (ou “blecaute”, em francês) é a ode ao passado que estávamos esperando: cantada toda em francês, algo completamente inédito para Spears, a lenta faixa de 2 minutos e pouco, apesar de servir unicamente como um aperitivo, é um grande encore de álbum como nunca vimos há anos.
As luzes já podem se apagar agora. Fomos rendidos.
Sucintamente, Britney está mostrando o que sabe fazer como nenhuma outra: ótima música pop.
Ao contrário dos trabalhos anteriores, caldeirões em ebulição de música dance que, em questão de meses, perdiam todo seu apelo, este é o disco mais longo, multifacetado (talvez o mais arriscado) de sua carreira. Ela pode dispensar, com folga, mais hits.
Afinal, sua residência em Vegas já está abarrotada deles, mas Glory é um claro manifesto de que, no jogo de interesses do mundo da música, ela ainda está ganhando. O Novo Testamento está aqui, senhoras e senhores, e é bom vocês sentarem e aproveitar o show privado, porque a performer que vos entretém não vai a lugar algum tão cedo.
Nossa Britney está viva!
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